Gente
Gutemberg Cruz lança glossário dos gibis e revistas em quadrinhos no Brasil
Uma viagem no tempo com personagens hilários e seus autores
O jornalista e pesquisador de artes gráficas Gutemberg Cruz lança nesta sexta-feira (24) a partir das 15h no Museu Eugênio Teixeira Leal, no Pelourinho, o “Grande Dicionário do Quadrinho Brasileiro” pela Editora Noir.
São 1.035 verbetes que resultaram de uma pesquisa que tem como parâmetro o início do Século XX onde aparecem personagens como “Lamparina” (J.Carlos), “Reco Reco”, “Bolão e Azeitona” (Luis Sá), “Tinoco o caçador de feras” (Theo) e chega aos anos 30 com o mordaz e defensor do povo “Juca Pato” (Belmonte). A musa do modernismo Pagu (Patricia Galvão) publicou o trio “Malakabaço”, “Fanika” e “Kebelhuda”. Um painel da vida brasileira em diferentes regiões com “João Tymbira”, de Francisco Acquarone de 1938. As revistas que tratavam de um personagem ou fato histórico surgiram na segunda metade da década de 1940, no governo de Getúlio Vargas e atingiu o ápice depois de 1950 onde publicavam historias com temas históricos, religiosos e científicos.
Assim nasceu o famoso Amigo da Onça
Ainda em meados dos anos 40 apareceu na revista “O Cruzeiro”, um dos maiores nomes do humor e das artes gráficas do Brasil: Millôr Fernandes. Foi nessa publicação que o pernambucano Péricles cria o genial “Amigo da Onça” (1943), cruel, sádico, e malicioso. Por três décadas foi o personagem mais popular do país. A irreverência do mau caráter “Amigo da Onça” encantava o brasileiro.
A década de 50 foi próspera em editoras nacionais com um número considerável de gibis publicados. Foi quando surgiram os quadrinhos brasileiros, com o traço estilizado de Ziraldo e o seu serelepe “Pererê”, melhor exemplo de brasilidade registrado nos quadrinhos. A alegre galeria ziraldiana apresentava o indiozinho “Tininin”, a onça “Galileu”, o macaquinho “Allan Viviano”, o tatu “Pedro Vieira”, o jaboti “Moacir Floriano”, o coelhinho “Geraldinho Neves”, a coruja “General Nogueira”, entre outros.
A Ditadura e a genialidade de Henfil
Nos anos 60 a censura cerceou as publicações, o que não impediu de surgir um dos mais críticos e contundentes quadrinhos: “Fradim”, do mineiro Henfil. Ele contribuiu decisivamente para renovar o traço humorístico brasileiro e criou personagens que entraram para o cotidiano do país, a exemplo da masoquista “Graúna”, o amedrontado militante “Ubaldo, o Paranoico”, ou o “Urubu”, símbolo do time do Flamengo.
Os anos 70 foram propicio para o quadrinho infantil brasileiro: A “Turma da Mônica”, criado por Maurício de Sousa ganhou a graça da gurizada. Os quadrinhos alternativos trouxeram vigor e esperança quando foram lançados. A década também foi pródiga para a produção de tiras de humor com enfoque na crítica social e conteúdo contestatório. O clima de tensão vindo pela repressão política e censura aos meios jornalísticos estimulava o afloramento da verve humorística, fazendo surgir uma série de novos cartunistas e personagens inflamados: “As Cobras”, de Veríssimo, “Rango”, de Edgard Vasques; “Chico Peste”, de Munhoz; entre outros.
A Bahia não ficou de fora e apresentou a “Turma do Xaxado” de Cedraz, “Buteco Teco”, de Lessa e Setubal nas tiras do “Fala Mansa”, “Nego e Nega” de Romilson Lopes, “Fala Menino” de Luis Augusto, “Au, o capoeirista”, de Flávio Luiz, entre tantos outros.
Após a abertura política, em 1985, uma nova geração de cartunistas viria se firmar: Angeli, Laerte, Adão Iturrusgarai, Fernando Gonsales, entre outros.
Mais que elencar autores e datas dos primeiros personagens de quadrinhos brasileiros, interessa sublinhar que nossos artistas pioneiros colocaram em cena temas alusivos às mazelas políticas como mensagem de comunicação. O mercado brasileiro de quadrinhos independentes está cada vez maior graças a iniciativas de financiamentos coletivos e pequenas editoras, que incentivam a produção nacional.